Dr. Bley, como ficou conhecido em Morro do Chapéu, nasceu
em Campina Grande na Paraíba. Em 1962 concluiu o Curso de Geologia, na
Universidade Federal de Pernambuco. Posteriormente, em 1965, freqüentou curso
de pós-graduação na Universidade de Minnesota (USA) e tornou-se professor da
UFPE a partir de 1969. Em 1975 obteve o título de doutor em Ciências pela
Universidade de São Paulo.
Trabalhou como geólogo da SUDENE no período de 1964 a 1971,
quando desenvolveu uma forte ligação profissional e afetiva com a região de
Morro do Chapéu, onde atuou como hidrogeólogo fazendo locação e perfurando
poços para água subterrânea.
Durante sua labuta profissional na região, ocorreram vários
casos interessantes. Entretanto, nada comparável a uma experiência vivida no
povoado de Umburaninha, ao norte de Morro do Chapéu (com. verbal). Naquele
local, nada recomendava a realização de uma perfuração para água subterrânea.
Não havia nenhuma estrutura geológica indicativa. Entretanto, o povoado era tão
carente, que foi autorizada uma perfuração. Quando a sondagem atingiu 80 metros
o Dr. Bley mandou parar os serviços e foi retirar a máquina. Lá chegando o
sondador foi logo dizendo: doutor, ta seco, seco. Diante da confirmação Bley
reafirmou a ordem para retirar a sonda. Foi quando ele se viu cercado por uma
multidão, cujo líder era um cidadão aleijado, que andava se arrastando, embora,
por incrível que pareça, conseguia andar a cavalo. À frente do grupo, ele
desceu da montaria, e ante o silêncio geral, pediu em tom desesperado:
- Dr. Bley,não faça
isso não.
- Mas meu amigo, olha,
veja bem. Não tem jeito. Antes de furar eu já sabia que as condições eram muito
ruins. Mandei fazer a perfuração só em atenção a vocês, pois eu sabia que aqui
tinha muita necessidade.
- Uma criança sonhou que
se o furo chegar a 100metros, tem água.
Bley então raciocinou com os seus botões: o que representa
vinte metros de perfuração, perante a esperança dessa gente?
- Não vai dar água de
jeito nenhum, mas para vocês não dizerem que não tive boa vontade, vou mandar
continuar a realização do furo.
Efetivamente deu água, porem em quantidade tão pequena que
não compensava colocar uma bomba. Mesmo com o sucesso das mais de 200 locações
e 50 perfurações efetuadas, esse inusitado caso de insucesso, deixou marcas no
nosso geólogo, em face a sua impotência para viabilizar o abastecimento daquela
comunidade.
Nesse período, a SUDENE o enviou para passar dois meses nos
EEUU, como parte de um programa de treinamento. Lá chegando ficou um pouco
frustrado porque não se tratava de um curso sobre água subterrânea e sim de um
ciclo de visitas à fábricas de equipamentos de sondagem. Visitou mais de dez
empresas, mesmo considerando que à partir da segunda foi tudo igual.
Entretanto, durante a viagem ele teve conhecimento da existência de um curso,
realizado em Minessota, onde eram ministrados os princípios básicos da
hidrogeologia e que começaria em julho do ano seguinte. Ao retornar a Morro do
Chapéu, Bley comentou sobre esse curso com o advogado Renato Passos, que
ponderou: olhe, nos temos uma aproximação muito grande com Juracy Magalhães,
que é o atual embaixador do Brasil nos EEUU. Vou fazer uma carta explicando que
você é geólogo, trabalha em Morro do Chapéu perfurando poços e gostaria de
fazer esse curso em Minessota, e solicitar informações sobre como a embaixada
brasileira poderá ajudar. Cerca de vinte dias depois chegou uma carta de
Juracy, onde constava: Benjamin Bley já está matriculado. Esse fato gerou um
pequeno desconforto entre Bley e seus superiores na SUDENE, que se sentiram à
margem dos acontecimentos e registraram que os tramites legais não tinham sido
obedecidos.
Em 1965, ao terminar o curso, Bley foi a Washington ter uma
audiência com Juracy, que o surpreendeu ao perguntar nominalmente por várias
pessoas, a exemplo de João Gomes e Jubilino, dentre outros, nome por nome.
Nessa ocasião Juracy disse para Bley: meu lema na vida é fazer tudo pelos
inimigos, porque pelos amigos Deus já realiza.
A partir de 1985 passou a trabalhar na Universidade de São
Paulo, de onde é professor titular. Atualmente também é representante do Brasil
em comissões internacionais, subordinadas a ONU/UNESCO, para desenvolvimento
das geociências.
Da
sua união com Berenice, nasceram três filhos: Eduardo (geólogo, perito da
Polícia Federal), Cynthia (professora do Curso Objetivo em Campinas, SP) e
Marilia (psicóloga), que segundo o próprio, se encarregará do tratamento do
pai.
A
sua dedicação a Morro do Chapéu foi reconhecida pela comunidade que lhe
concedeu o título de Cidadão Honorário e atribuiu seu nome a uma rua da sede
municipal.
Guiado
pela modéstia, registrou: sou
insignificante para Morro do Chapéu, mas Morro do Chapéu é muito significante
para mim. O nome da rua com meu nome é injusto e político, não mereci, a não
ser que um grande amor por um povo, uma cidade, uma região, seja motivo para se
tornar nome de rua.
Em dezembro de 2009 durante as comemorações do centenário
da elevação de Morro do Chapéu, da condição de vila para a condição de cidade,
foi homenageado pela prefeitura municipal com a Comenda Padre Juca.