Benjamin Bley de Brito Neves

(08.02.1941)

 

          Dr. Bley, como ficou conhecido em Morro do Chapéu, nasceu em Campina Grande na Paraíba. Em 1962 concluiu o Curso de Geologia, na Universidade Federal de Pernambuco. Posteriormente, em 1965, freqüentou curso de pós-graduação na Universidade de Minnesota (USA) e tornou-se professor da UFPE a partir de 1969. Em 1975 obteve o título de doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo.

          Trabalhou como geólogo da SUDENE no período de 1964 a 1971, quando desenvolveu uma forte ligação profissional e afetiva com a região de Morro do Chapéu, onde atuou como hidrogeólogo fazendo locação e perfurando poços para água subterrânea.

          Durante sua labuta profissional na região, ocorreram vários casos interessantes. Entretanto, nada comparável a uma experiência vivida no povoado de Umburaninha, ao norte de Morro do Chapéu (com. verbal). Naquele local, nada recomendava a realização de uma perfuração para água subterrânea. Não havia nenhuma estrutura geológica indicativa. Entretanto, o povoado era tão carente, que foi autorizada uma perfuração. Quando a sondagem atingiu 80 metros o Dr. Bley mandou parar os serviços e foi retirar a máquina. Lá chegando o sondador foi logo dizendo: doutor, ta seco, seco. Diante da confirmação Bley reafirmou a ordem para retirar a sonda. Foi quando ele se viu cercado por uma multidão, cujo líder era um cidadão aleijado, que andava se arrastando, embora, por incrível que pareça, conseguia andar a cavalo. À frente do grupo, ele desceu da montaria, e ante o silêncio geral, pediu em tom desesperado:

- Dr. Bley,não faça isso não.

- Mas meu amigo, olha, veja bem. Não tem jeito. Antes de furar eu já sabia que as condições eram muito ruins. Mandei fazer a perfuração só em atenção a vocês, pois eu sabia que aqui tinha muita necessidade.

- Uma criança sonhou que se o furo chegar a 100metros, tem água.

          Bley então raciocinou com os seus botões: o que representa vinte metros de perfuração, perante a esperança dessa gente?

- Não vai dar água de jeito nenhum, mas para vocês não dizerem que não tive boa vontade, vou mandar continuar a realização do furo.

          Efetivamente deu água, porem em quantidade tão pequena que não compensava colocar uma bomba. Mesmo com o sucesso das mais de 200 locações e 50 perfurações efetuadas, esse inusitado caso de insucesso, deixou marcas no nosso geólogo, em face a sua impotência para viabilizar o abastecimento daquela comunidade.

          Nesse período, a SUDENE o enviou para passar dois meses nos EEUU, como parte de um programa de treinamento. Lá chegando ficou um pouco frustrado porque não se tratava de um curso sobre água subterrânea e sim de um ciclo de visitas à fábricas de equipamentos de sondagem. Visitou mais de dez empresas, mesmo considerando que à partir da segunda foi tudo igual. Entretanto, durante a viagem ele teve conhecimento da existência de um curso, realizado em Minessota, onde eram ministrados os princípios básicos da hidrogeologia e que começaria em julho do ano seguinte. Ao retornar a Morro do Chapéu, Bley comentou sobre esse curso com o advogado Renato Passos, que ponderou: olhe, nos temos uma aproximação muito grande com Juracy Magalhães, que é o atual embaixador do Brasil nos EEUU. Vou fazer uma carta explicando que você é geólogo, trabalha em Morro do Chapéu perfurando poços e gostaria de fazer esse curso em Minessota, e solicitar informações sobre como a embaixada brasileira poderá ajudar. Cerca de vinte dias depois chegou uma carta de Juracy, onde constava: Benjamin Bley já está matriculado. Esse fato gerou um pequeno desconforto entre Bley e seus superiores na SUDENE, que se sentiram à margem dos acontecimentos e registraram que os tramites legais não tinham sido obedecidos.

          Em 1965, ao terminar o curso, Bley foi a Washington ter uma audiência com Juracy, que o surpreendeu ao perguntar nominalmente por várias pessoas, a exemplo de João Gomes e Jubilino, dentre outros, nome por nome. Nessa ocasião Juracy disse para Bley: meu lema na vida é fazer tudo pelos inimigos, porque pelos amigos Deus já realiza.

          A partir de 1985 passou a trabalhar na Universidade de São Paulo, de onde é professor titular. Atualmente também é representante do Brasil em comissões internacionais, subordinadas a ONU/UNESCO, para desenvolvimento das geociências.

Da sua união com Berenice, nasceram três filhos: Eduardo (geólogo, perito da Polícia Federal), Cynthia (professora do Curso Objetivo em Campinas, SP) e Marilia (psicóloga), que segundo o próprio, se encarregará do tratamento do pai.

A sua dedicação a Morro do Chapéu foi reconhecida pela comunidade que lhe concedeu o título de Cidadão Honorário e atribuiu seu nome a uma rua da sede municipal.

Guiado pela modéstia, registrou: sou insignificante para Morro do Chapéu, mas Morro do Chapéu é muito significante para mim. O nome da rua com meu nome é injusto e político, não mereci, a não ser que um grande amor por um povo, uma cidade, uma região, seja motivo para se tornar nome de rua.

          Em dezembro de 2009 durante as comemorações do centenário da elevação de Morro do Chapéu, da condição de vila para a condição de cidade, foi homenageado pela prefeitura municipal com a Comenda Padre Juca. 



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