(10.09.1916
– 11.09.2002)
Tolentino nasceu na cidade de
Morro do Chapéu, filho de Genésio Tibúrcio Guimarães e Maria da Glória Oliver
Guimarães. Cursou até o 30 ano primário, foi balconista de casa
comercial, trabalhador manual, garimpeiro e lavrador. Aos 15 anos foi sacristão
da paroquia, cujos padres eram Tolentino Celestino da Silva e João Ramos
Marinho. Passou a trabalhar como farmacêutico a partir de 1940, quando fez concurso
para oficial de farmácia pela Secretaria de Educação e Saúde do Estado,
iniciando o exercício da função no mesmo ano, na sua própria farmácia
denominada São José, que havia adquirido do farmacêutico Aurelino de Brito. Em
20.08.1940 e em 15.09.1967 foi nomeado Adjunto de Promotor Público.
Nessa época o exercício da sua
profissão era muito difícil. Os remédios eram manipulados. As fórmulas eram
prescritas pelos médicos, quando passavam por Morro do Chapéu, sendo
obrigatoriamente executadas obedecendo a farmacopéia brasileira (livro
obrigatório em todas as farmácias). Os formulários, principalmente o do Dr.
Heitor Luz, serviam de guia para o bom êxito do trabalho de manipulação.
Não havendo médico em Morro do
Chapéu naquela época, Tolentino era procurado pela população carente, a qual
atendia com os recursos de que dispunha, como nos casos de curativos, luxações,
extrações dentárias, partos naturais e outros casos patológicos. Muitas vezes
era necessário viajar a cavalo, às vezes em noites chuvosas, para atender
doentes em lugares afastados. Nessa época, uma viagem para Salvador, por
exemplo, podia demorar até cinco dias. Inicialmente, de caminhão, que
normalmente atolava no Jacarezinho, passando por Várzea Nova e Tombador, até
Jacobina, onde se tomava o trem de ferro para Bomfim e daí para Salvador.
Um atendimento de urgência, em
especial, marcou profundamente Tolentino (com.verbal):
Teve
um caso em Canarana, em que um pai foi pescar e ao lançar o anzol, o mesmo
penetrou no rosto de sua filha, onde ficou preso. A população não sabia o que
fazer e mandaram para mim. Ao ver o quadro eu disse para o pai: não tenho
nenhuma condição de atender sua filha. Não tenho ferros, estiletes, agulhas próprias,
nada. Como é que eu vou tirar isso? A inchação estava horrível e o pus
escorrendo. Naquele tempo não tinha penicilina. Vou fazer uma carta para um
médico em Jacobina e o senhor leva a menina para lá. O pai então disse: nada
disso. Ou o senhor faz aqui ou volto para onde vim. Deixei a roça sem queimar e
sou obrigado a voltar. Eu disse: rapaz, eu lhe dou o dinheiro, vou fazer uma
carta para o doutor Florisvaldo Barberino. O pai disse: não. É desse jeito que
eu falei. Desse modo tive que preparar uma mesa que tinha na farmácia, que foi
limpa, e chamei dois companheiros para segurar nos braços da menina, fiz uma
solução de cocaína, botei no olhinho dela e com um bisturi rústico, fui
cortando, cortando e pensei: um olho vou botar a perder, mas pelo menos vou
salvar a menina. Quando cheguei adiante encontrei o nervo e o castor do anzol
por cima do mesmo. Eu virei o nervo e tirei o anzol. Foi uma alegria para mim
quando tirei. Botei colírio e entreguei o frasco ao pai dizendo: coloque o
remédio e amanhã você volta aqui com ela para ficar fazendo curativo durante
uma semana. Ele disse: não senhor. Eu vou embora é hoje. E arribou. Quando foi
um dia, passado uns 10 anos, chegando a Cafarnaum, encontrei o homem, a quem
não conhecia mais. Ele chegou, falou comigo e trouxe junto uma moça, já de
propósito, e perguntou: conhece essa moça? Não senhor, eu respondi. Conhece
sim. Se conheço, não sei quem é. É a
moça de quem o senhor operou do anzol no rosto. Eu disse: minha filha, deixa eu
ver. E foi necessário que ela dissesse qual foi o olho, pois nem um sinal
ficou. Isso não é interessante?
Casado com Rita Bagano
Guimarães, em 12.05.1948, teve sete filhos: Jomarito Bagano Oliveira, casado
com Lúcia Maria Souto Guimarães; Renato Oliver Guimarães, casado com Maria de Lourdes Feitosa
Guimarães; Marcos Bagano Guimarães, casado com
Maria Glaciete Rocha Bagano Guimarães; Teresa Maria Bagano Guimarães, casada
com Nerenilton Rodrigues da Silva; José Marcelo Bagano Guimarães casado com Ana
Cláudia Pires Almeida Bagano Guimarães; Cláudia Maria Bagano Guimarães; Túlio
Robério Bagano Guimarães;
Participou da vida política do
município, inicialmente pelo PSD e posteriormente pela UDN, partido pelo qual
foi por duas vezes candidato a prefeito, disputando as eleições com Genésio
Valois e Lourival Cunegundes-Lourito. Foi vereador duas vezes, inclusive
vice-presidente da Câmara de Vereadores.
Um
acontecimento interessante na vida política de Tolentino (com. verbal), se deu
durante um dialogo com o velho Paulo, um velho desses
pé-de-boi, muito amigo de Jubilino, e com uma família muito grande. Eu fui
atras dele dizer que era candidato e queria o seu voto. Ele disse: o senhor
compreenda. Eu sou do PSD e já disse a Jubilino que vou votar com ele.
-Se
o senhor prometeu, o que é que eu vou fazer? Eu queria o voto do meu amigo, mas
não tenho esse direito.
Ele
disse: mais vou dar um jeito. Eu e meu filho mais velho Joaquim, vamos votar
com eles e o resto da família eu mando votar no senhor.
-E
eu disse: não senhor. Não quero não.
-Não
está certo não?
Não.
Porque eu prefiro o voto do meu amigo. Imagine se eu entrar na prefeitura e
disser: não foi com o voto do meu amigo e por isso não tenho satisfação.
Ele
disse: acabou Tolentino. Todos os votos da família são teus agora. Tudo é teu.
E
votou sempre comigo e nunca mais votou no PSD.