(1900-1984)
Jorge Homero nasceu em Utinga e
foi criado em Morro do Chapéu, na rua Tiradentes. Exerceu a profissão de
barbeiro e se notabilizou pelas histórias que narrava para a sua clientela.
Jorge contava que tinha um filho
que foi trabalhar em São Paulo. Lá chegando, com pouco tempo já era o titular
de um importante time de futebol. Certa feita o garoto participou de um jogo
que foi transmitido pelo rádio. O orgulhoso pai acompanhava atentamente o
desempenho do filho, ouvido colado no aparelho. A certa altura do jogo, o
garoto desferiu uma cabeçada tão potente, que a bola ao bater no travessão do
adversário, provocou em impacto muito forte, que chegou a balançar o rádio em
que ele ouvia o jogo em Morro do Chapéu.
Uma vez ele foi pescar sozinho
no rio Vereda. Tinha tanto peixe que ele não se conteve e exclamou: na próxima
semana vou trazer uns companheiros para pescar aqui. De fato, na semana
seguinte ele levou um grupo bem grande, com vários anzóis. Entretanto, peixe
que é bom, nada. Jorge não se incomodou com aqueles que ficavam repetindo ter
perdido a viagem. Se afastou um pouco e começou a atirar para o alto. Os
amigos, que já estavam irritados por não conseguirem pescar nada, foram logo
reclamando:
-Ora Jorge. Você nos traz aqui, ninguém pesca nada, não tem
peixe, e você ainda fica fazendo graça, atirando para cima.
Jorge então respondeu na maior calma:
-Olhem para o chão. Vejam quantos peixes. Acontece que
quando eu falei que traria vocês, os peixes ouviram e trataram de se esconder,
subindo nas árvores. É por isso que eu estava atirando. Eles estavam se
escondendo em cima das árvores.
Certa
vez ele passou em uma cidade e ficou admirado ao constatar que em uma casa
havia um imenso pé de laranja, que de tão carregado passava por cima do muro e
ficava rente à calçada. Até ai, tudo bem. Entretanto, o que causava espécie era
o fato de que ninguém pegava uma fruta sequer. Que povo educado. De repente
surgiu uma boiada enorme. Uma vaca se aproximou da laranjeira e começou a
mastigar uma fruta. Qual não foi a sua surpresa ao ver a careta que a vaca fez
de imediato. A laranja era tão azeda que os chifres da vaca amoleceram e as
pontas se tocaram e o animal saiu em disparada, louco da vida. Estava explicado
porque ninguém pegava uma fruta sequer.
Um dia ele foi a um riacho tomar
banho. Chegando lá, tirou a roupa e um relógio de estimação, que possuía. Nessa
época só existia relógio que funcionava à base de corda manual. Assim que ele
acabou de tomar banho, vestiu a roupa e foi embora, esquecendo o relógio. Ao
chegar em casa lembrou-se do relógio e voltou correndo ao local, porem para o
seu pesar não mais encontrou o relógio. Ficou procurando durante horas..
Revirou tudo, e nada. Voltou para casa desolado. O tempo passou e cerca de
vinte anos depois ele teve oportunidade de retornar ao mesmo riacho, quando
ouviu alguns tic-tac, tic-tac. Logo ele reconheceu o som produzido pelo
funcionamento do seu velho, estimado, e nunca esquecido relógio. Decidido a
recuperar o seu querido objeto de estimação, caminhou na direção em que vinha o
som, deparando-se com uma imensa cobra. Logo ele deduziu que a cobra tinha
engolido o relógio e quando rastejava, dava corda no mesmo. Logicamente ele
matou a cobra e recuperou o seu precioso relógio.
Numa determinada oportunidade,
ele foi ao mato fazer suas necessidades fisiológicas. Naquele tempo, se fazia
era no mato mesmo. No decorrer dessa delicada operação, ele começou a ouvir
repetidas vezes um trecho da música de Luiz Gonzaga, intitulada Mandacaru. Sob
o sol da caatinga ele só ouvia: mandacaru quando fulora..... mandacaru quando
flurora........ mandacaru quando fulora. Curioso, se aproximou do local e se
deparou com uma cena que o deixou de boca aberta. Na sua frente tinha um pé de
mandacarú, no qual estava preso um pequeno pedaço de um disco. Quando o vento
balançava o pé de mandacaru, o pedaço de disco rodava e um espinho funcionava
como agulha para tocar a música. Como só existia um pedaço do disco, o trecho
tocado da música era sempre o mesmo.
Na época do garimpo ele se
mostrava todo poderoso, pois dizia ter garimpado o maior diamante até então
conhecido. O tal diamante era tão grande, que para carrega-lo era necessário
utilizar as duas mãos. Várias compradores, inclusive do exterior, se
interessaram pela jóia, porem ele se mostrava irredutível. Não vendia. Dizia
que o diamante seria guardado para o futuro dos filhos e netos, que não
precisariam trabalhar. Nessa época, a sua filha
namorava o rapaz com quem se casaria. Jorge sempre comentava com os
amigos, que quem se casasse com sua filha ganharia dois litros cheios de
diamantes. Essas conversas empolgaram o namorado que se prontificou a casar.
Alguns dias após o casamento ele recebeu o presente e logo tratou de mandar
avaliar. Para sua profunda decepção foi constatado que os diamantes eram
cristais de rocha (quartzo). Os amigos até hoje fazem brincadeiras Tomás, por
causa desse episódio.
Após o falecimento de Jorge, o
seu neto Ozenildo Costa Homero, descobriu o tal diamante gigante entre os seus
pertences. Na realidade um grande e belo cristal.